Os órgãos captados foram duas córneas, dois rins e um fígado. Cinco pessoas serão beneficiadas com o ato de amor ao próximo. Apenas em 2023, o Estado do Pará registrou 617 transplante
O fígado foi transplantado em um paciente de Abaetetuba. Os rins tiveram como receptores, um paciente do município de Inhangapi, e o outro em um paciente de Cumaru do Norte, todos foram selecionados por critérios de compatibilidade
Profissionais do Hospital Santa Rosa, fizeram um “corredor humano” para a caminhada do respeito, todos de mãos dadas agradeceram e homenagearam à memória da paciente, solidarizando-se com a família da doadora
A Central Estadual de Transplantes do Pará (CET-PA), vinculada à Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), efetivou na última sexta-feira (23), a primeira captação de órgãos para transplante da região do Baixo Tocantins. O procedimento aconteceu no Hospital Regional do Baixo Tocantins Santa Rosa (HRBTSR), em Abaetetuba e, foi autorizado pelos familiares de uma jovem de 22 anos, que faleceu após um acidente de motocicleta.
O processo de doação dos órgãos foi iniciado pela Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes – (CIHDOTT), do Hospital Santa Rosa, e em seguida coordenado pela equipe da CET-PA, que fez todo o procedimento de acolhimento dos familiares da doadora, além da organização das etapas que antecederam a captação dos órgãos.
Eficácia – A cirurgia de retirada dos órgãos, começou às 09:40h, e se estendeu até as 11:45h, sendo conduzida pela equipe do médico Rafael Romero Garcia (Responsável Técnico do Serviço de Transplante Hepático na Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará), a sala cirúrgica esteve sob a coordenação da Enfermeira Ionara Paulina, da Central de Transplantes do Estado (CET-PA), o procedimento foi acompanhado pela coordenadora da CET/SESPA, a Biomédica Ierecê Miranda, e contou com a participação dos profissionais do Hospital Santa Rosa.
O médico Rafael Garcia, agradeceu a todos que participaram do processo de retirada dos órgãos, e afirmou, “eu não conhecia o Santa Rosa, mas, está de parabéns a equipe do Hospital Santa Rosa, pela excelente estrutura e, com um centro cirúrgico que conta com todo o aparelhamento para realizar procedimentos cirúrgicos”.
Cinco pessoas serão beneficiadas com os órgãos e vão ganhar uma nova vida, graças ao gesto de generosidade dos pais da jovem doadora. O fígado e os rins foram levados para Belém, no início da tarde da sexta-feira (23), pela equipe do Grupamento Aéreo de Segurança Pública (Graesp), vinculado à Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social (Segup), em helicóptero do Governo do Estado, juntamente com o médico Rafael Romero Garcia, e as córneas por ter um tempo de viabilidade maior para ser transplantada, seguiu via terrestre com a coordenadora do CET-PA, Ierecê Miranda, juntamente com a equipe do Banco de Olhos, que realizou a retirada das córneas.
Transplante – O fígado foi transplantado pelo médico Rafael Romero Garcia, ainda na tarde da sexta-feira, 23, em cirurgia realizada no Hospital Santa Casa de Misericórdia do Pará, cujo paciente receptor é morador de Abaetetuba. “Um dos rins foi transplantado em um paciente do município de Inhangapi, a cirurgia foi realizada no Hospital Ophir Loyola. O segundo rim foi transportado em aeronave para a cidade de Redenção, pela equipe do Graesp, no sábado, 24, e transplantado para um paciente de Cumaru do Norte, a cirurgia foi realizada no Hospital Regional de Redenção, todos os pacientes foram selecionados por critérios de compatibilidade”, informou a coordenadora da CET-PA.
“A doação de órgãos é um gesto de amor ao próximo que muda o destino, traz a saúde de volta e faz a diferença na vida de muitas pessoas. Que o gesto dessa família possa sensibilizar cada vez mais a população da Região do Baixo Tocantins e de todo o Pará, a buscarem informações e experimentar do gesto mais nobre do ser humano, que é ajudar alguém que não conhece, como acontece com a doação de órgãos”, ressaltou a coordenadora.
Para a Secretária de Estado de Saúde do Pará (Sespa), Ivete Vaz, a atuação da equipe foi fundamental para que a captação acontecesse. “Estamos felizes e orgulhos por conseguir essa, que é a primeira captação de órgão para transplante na região do Baixo Tocantins, onde outras pessoas terão a oportunidade de ter uma nova chance de vida. Agradecemos, principalmente, aos familiares da doadora, que fizeram este ato solidário e compreenderam a importância de uma doação”, ponderou a secretária.
Referência – Hospital Regional Santa Rosa (HRBTSR), administrado pela Organização Social Instituto Diretrizes, disponibilizou toda a estrutura necessária para a realização da cirurgia de remoção dos órgãos. A unidade é pioneira na captação de órgãos para transplante na Região do Baixo Tocantins e do interior do Estado do Pará.
“A união e o empenho de todos possibilitaram que todo o processo tivesse sucesso, a atuação rápida da equipe após o diagnóstico do paciente foi muito importante para a preservação dos órgãos. Mas, nada seria possível sem a aceitação da família, que conseguiu transformar a dor da perda em esperança para outras pessoas que dependem do transplante para viver”, enfatizou Claudemir Guimarães, Diretor Geral do HRBT.
“Ser o hospital referência na captação de órgãos na região do Baixo Tocantins, e contribuir com o transplante de órgãos, é um passo muito importante para o Hospital Santa Rosa. Graças ao empenho do Instituto Diretrizes e da Sespa, temos estrutura, equipamentos e equipe qualificada para acompanhar todo o processo, e é gratificante ver o resultado positivo. Em meio à dor da perda, a doação de órgãos ressignifica a morte e transforma a tristeza em ato de amor”, pontuou o diretor do HRBT.
Homenagens – Antes do procedimento de retirada dos órgãos, a equipe assistencial, junto com os profissionais do Hospital Santa Rosa, realizou um “corredor humano” para a caminhada do respeito, no trajeto entre a UTI e o Centro Cirúrgico. Um gesto simbólico em que todos estão de mãos dadas em agradecimento e em homenagem à memória da paciente, solidarizando-se com a família da doadora.
Protocolo – O procedimento para coleta, transporte e transplante de órgãos segue normas rígidas, protocoladas na Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa). Paciente com diagnóstico de morte encefálica é um doador em potencial. O processo de captação se inicia com a confirmação do diagnóstico de ME, sendo consultada a família sobre a possibilidade de doação dos órgãos. Caso concordem, é realizada uma série de exames para verificação de compatibilidade com os receptores em fila de espera.
Transplantes no Brasil – Dados do Ministério da Saúde, apontam que o Brasil tem o maior sistema público de transplantes do mundo e é referência mundial em doação e transplantes de órgãos, garantindo de forma integral e gratuita pelo Sistema Único de Saúde (SUS), responsável por financiar e fazer mais de 88% de todos os transplantes de órgãos do país. O estado do Pará vem melhorando os índices de doação e transplantes de órgãos. A população Paraense vem demonstrando que está cada vez mais informada a respeito dessa temática.
Em 2022, foram efetivados 11 doadores de órgãos e 89 doadores de córneas (total de 100 doadores), já em 2023, o Pará registrou 30 doadores de órgãos e 306 de córneas (total de 336 doadores), um aumento expressivo com um número histórico de doadores de órgãos e tecidos, e por conseguinte de transplantes, mas, este aumento ainda é insuficiente para atender a demanda de pacientes em fila de espera para transplantar, hoje, o número de pacientes que aguardam por um órgão ou tecido e de 919 para transplantes de córneas, 548 de rins e 12 de fígado.
Texto: Wellington Hugles-ASCOM/HRBTSR
Fotos: Marllon Pinheiro